Em "As          Pequenas Percepções", José              Gil descreve fases de camadas de
percepção na obra de arte.

Estágio primário e trivial dos sentidos, onde primeiro se reconhece sensações de estranheza ou familiaridade.

Estágio não-trivial ao alcançar o que há “entre” os elementos primários.

Percepção subjetivama do movimento, espaço e tempo - olhar que alcança camadas e estruturas ocultas de seu próprio ser.

Essa última fase se caracteriza pela percepção de todo o conjunto, onde há o deslocamento entre o trivial e não-trivial, na qual “cada percepção singular se oferece por inteiro ao olhar".
O que uma obra de arte apresenta de invisível? Nada que não vejamos” (GIL, 2005, p. 31).
Foucault:                                 
 “Por que                        um pintor trabalharia,                    se ele não é transformado           por sua pintura?”

O sentir expandido das pequenas percepções abre espaço para a “ausência de consciência de si”, inconscientes e microscópicas. A arte pode servir como uma ponte entre consciente e inconsciente.

Gil: "É o corpo que “percebe” a atmosfera [...]. Se o corpo percebe todas essas modulações da força é porque está aberto, ou seja, suas próprias forças entraram em contato com as forças da atmosfera. Pois a atmosfera induz à abertura dos corpos, convidando à osmose. Ela constitui um meio que impregna imediatamente os corpos."
Transe:
Im
prov
isa
ção,
tem
po,
rito
ual.
Transe deriva da palavra francesa transe, que quer dizer “medo do mal” e origina do verbo latino transire, que significa atravessar – a palavra já foi associada à passagem da vida à morte, para significar uma passagem entre distintos estados de consciência.

O pesquisador e diretor teatral Jerzy Grotowsky afirma: "O ritual é um momento de grande intensidade. Intensidade provocada. [...] As testemunhas entram, então, em estados intensos porque, dizem, terem sentido uma presença. E isso, graças ao Performer, que é uma ponte entre a testemunha e algo. Sendo assim, há um jogo do performer, que carrega memórias e experiências inscritas em cada detalhe de seu corpo e permite se conectar a este para enfim desenvolver métodos de adentrar diferentes estados de percepção. A performance em si algo feito com o propósito de ser vista e, consequentemente, ser coletiva, e por isso afeta o espectador de modo a igualmente trazê-lo a um estado total de presença".

A música da TRANSalgumaCOISA nasce no próprio ritual. Segundo Grotowsky, “O teatro é a única dentre as artes a possuir o privilégio da ‘ritualidade’” e segundo Kandinsky , a música é “a arte mais imaterial de todas”, e “a arte por excelência para exprimir a vida espiritual do artista.”. A banda se encontra entre as potências da ritualidade e a materialidade atmosférica da música.

Diferentes conceitos de um corpo além do cotidiano:
impermanente, lúcido, consciente, em transformação, atualizado em si mesmo e não aprisionado.

Segundo Artaud o artista é um “médico da cultura” que propõe uma “saída corporal para a alma”.

Tempo e improvisação. O tempo presente é um tempo que se estende também na verticalidade - para além de passado, presente, futuro.

A intuição fertiliza a criação e o abstrato se materializa de forma imprevisível.

A arte tem em si o principal foco e objetivo; a própria razão de sua existência.

Nas palavras de Kandinsky (2015, p. 38-39): "[...] a arte encontra no caminho ao término do qual reencontrará o que perdeu, o que voltará a ser o fermento espiritual de seu renascimento. O objeto de sua busca não é o objeto material concreto a que o artista se prendia exclusivamente na época precedente - etapa superada -, mas será o próprio conteúdo da arte, sua essência, sua alma, sem a qual os meios que a servem nunca serão mais do que órgãos lânguidos e inúteis. Esse conteúdo, só a arte pode captá-lo, só ela pode exprimi-lo claramente com os meios que lhe pertencem."
seguinte >
TRANSalgumaCOISA, transdisciplinaridades, corpo e
percepção
< anterior